O sorriso dela era simplesmente imperturbável, esplendoroso, fabuloso
Sentia-se feliz com o seu sorriso. Fantástico sentir-se feliz com os sorrisos das outras pessoas se bem que a outra pessoa em questão era a sua filha.
O brilho da gambiarra na árvore de natal a reflectir-se nos cabelos castanhos da filha, as faces coradas do calor que a lareira acesa emanava, os olhos brilhantes de satisfação.
O cheiro a fritos e canela. Um «espelho» de sorrisos aquela noite de Natal.
Uma noite de Natal de sonho.
Fixou a estrela no topo da árvore de natal, uma estrela dourada brilhante
a estrela que veio com ela do passado.
A mesma estrela que a estava a levar de volta a um Natal passado. Deixou de ver a filha, a gambiarra, a árvore de natal
E reviu-se a ela naquele NATAL.
A árvore não tinha luzes, tinha uma estrela dourada enorme, umas bolas feitas de papel pela mãe e que ela tinha ajudado a colorir.
Os pais andavam tristes, ouvia-os a sussurrar.
No outro dia tinha mostrado á mãe uma boneca lindíssima numa montra. A mãe sorrira e dissera que provavelmente a boneca estaria vendida. Que uma boneca tão bonita como aquela de certeza já teria dono.
Mas ela sabia que não. Todos os dias depois da escola passava pela montra e via a boneca de vestido de veludo vermelho, com um chapéu de rendas na cabeça. Parecia que a boneca lhe sorria e lhe dizia, sou tua vem-me buscar.
Nesse dia quando chegou a casa pareceu-lhe ouvir vozes no quarto dos pais. Não sabia bem porque, mas colocou-se perto da porta escondida nas sombras por forma a ouvir e a não ser vista. A mãe chorava enquanto o pai a tentava consolar. Que tudo se iria resolver, que ele ainda era um homem novo e que iria arranjar emprego.
No meio dos soluços apenas ouvia a mãe dizer: - A boneca, ela vai ficar tão triste. A boneca de vestido vermelho. Não vamos conseguir compra-la.
Não quis ouvir mais nada. Fechou-se no seu quarto e chorou até que o choro a abandonou e deixou de fazer sentido.
Nessa noite (a 3 dias da noite de Natal) no jantar as palavras eram parcas. A mãe tinha os olhos inchados de chorar, o pai levantava a cabeça com um olhar triste e afagava a mão da mãe carinhosamente. Até que a mãe lhe explicou o que ela já sabia. O pai tinha perdido o emprego, que não haveria bonecas nem brinquedos, nem doces
Mas que estariam juntos e que tudo se resolveria. Que teriam na mesma uma Noite de Natal, se bem que não muito fausta.
Ela ia olhando quer para o pai, quer para a mãe e acenava a cabeça.
Nessa noite sentou-se perto da lareira a olhar para a estrela dourada no topo da árvore de Natal. E foi quando a ideia lhe surgiu.
Durante aqueles 3 dias trabalhou afincadamente. Chegava mais tarde da escola (a mãe tinha reparado nos seus atrasos e ralhou-lhe).
À noite tinha sempre muito mais sono e retirava-se para o quarto perante o olhar admirado e surpreso dos pais.
Mas na véspera de Natal estava tudo pronto.
Tiveram uma noite de Natal tal como a mãe disse não muito fausta. Mas ela mostrou-se muito alegre e de certa forma isso contagiou os pais.
No dia de Natal quando acordou ouviu murmúrios, os pais já estavam a pé. Ainda meio estremunhada dirigiu-se à sala e encontrou os pais sentados no chão perto da arvore de Natal, abraçados e com um sorriso na cara.
Foi o melhor presente que poderia ter tido, aquela imagem serena e feliz dos pais.
Tinha lhe dado muito trabalho mas estava tudo como ela tinha planeado.
A boneca vermelha estava lá linda, uma blusa para a mãe, uns sapatos para o pai
muitos chocolates, bolos e doces.
Estava tudo lá
Pintado e recortado por ela em tamanho real.
Tinha deixado uma nota escrita em que dizia que acreditava na Magia do Natal e que tinha a certeza que no próximo natal aqueles desenhos em cartão se tornariam reais, que os pais não se preocupassem. Que o que importava era estarem juntos. Lembrava-se perfeitamente dos olhos brilhantes e emocionados dos pais.
Na realidade aquele Natal foi inesquecível para todos.
Em Todos os Natais seguintes a boneca de cartão com o seu vestido vermelho estava por baixo da árvore de Natal. A árvore enchia-se de presentes, mas a boneca de vestido vermelho tinha um lugar privilegiado.
De volta ao Natal presente, ela olhou para a estrela dourada e para a boneca de vestido vermelho de cartão que continuava a ter o seu lugar privilegiado debaixo da árvore.
Quando olhava para a felicidade estampada no rosto da filha perguntava-se se alguma vez ela sentiria o Natal como ela o sentiu
Sem dúvida que ela tinha sido uma privilegiada e aquele Natal do seu passado tinha sido um Natal mágico para todos.
==============================================================
@ PrincesaVirtual: Com esta pequena história de Natal aproveito para vos desejar um Natal Mágico e muito Brilhante a todos. Uma vénia e um beijo ... :)