Sexta-feira, 5 de Agosto de 2005

Para além de...muito para além

uma mulher.jpg

@ Vou de férias e queria deixar no blog, algo meu. Confesso, que nada me ocorria. Nesta minha curta incursão pela escrita descobri que a vontade está na «ponta dos meus dedos». Como já fiz de outras vezes, abri a folha de Word, e as palavras começaram a surgir, a «Estória». Pura ficção, mas infelizmente uma cópia de muitas realidades. Não faço a menor ideia porque escrevi isto, nem como surgiu. É um assunto que me toca., violência doméstica, crianças infelizes . Mas julgo que nos toca a todos.
Eu sou uma felizarda, nuca vivi estas experiências. Mas, como a maioria de nós, vivo tão perto de quem as vive. A um passo muitas vezes de apenas colocarmos um braço por cima de alguém e dizer-lhes pronto já passou, agora vamos mudar tudo, vamos dizer «Não». Mas na maioria das vezes a atitude é a da indiferença, falo por mim. Ou algo do tipo «Entre marido e mulher, ninguém mete a colher». Julgo que isto é a tal «consciência social», ou na maioria das vezes a ausência dela.
Que há histórias assim, HÁ…

Um beijo da Princesa que regressa no final de Agosto e umas excelentes férias para todos…
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Estava sentada na cadeira. O copo de água sobre a mesa estava tombado. Ela olhava para o copo. Não, na verdade para além do copo, muito para além. Tudo voltou num repente. Aquilo que ela tinha tentado esquecer durante estes anos. Bastou mais uma discussão com o João, a voz agressiva, a chapada que ele lhe tinha dado, o murro na mesa, o som do copo a tombar, a porta a bater…
Tudo voltou, só que agora ela já não olhava para cima, não se escondia debaixo da mesa, não tapava os ouvidos na esperança de não ouvir, não fechava os olhos na esperança de não ver…
Tudo voltou, o coração de menina, pequenino e apertado, a dor de barriga do medo que sentia, a almofada molhada nas longas noites em que ouvia os pais a discutir no quarto.
Ainda, conseguia ouvir os apelos da mãe a pedir que o pai parasse, a pedir que fechasse a porta do quarto, por causa da «menina».
Mas o que mais lhe custava era as olheiras da mãe no dia seguinte, o olhar triste, a voz cansada, as nódoas negras que a mãe tentava esconder e que todos fingiam não ver.
Estranho. Não se lembrava de um sorriso na mãe, como se todos dias lá em casa fossem tristes.
Um dia tinha encontrado uma caixinha de madeira no chão, limpou-a com muito cuidado, forrou o seu interior com uma prata de um chocolate, recortou estrelas de várias cores e colou na tampa. Depois embrulhou num papel e escreveu nele «para a minha querida mãe». Tinha a certeza que nesse dia receberia um sorriso. Mas a mãe olhou para ela com o mesmo olhar triste, não, na verdade olhou muito para além dela, muito para além. E colocou o embrulho na prateleira das mercearias ao lado do pacote do arroz, sem mesmo o abrir. Foi como se o mundo acabasse naquele momento para ela, como se não tivesse ninguém.
Lembrava-se que quando se sentia perdida, abria um livro de histórias, geralmente os que tinham finais felizes, com famílias felizes, com mães sorridentes. E então em outra dimensão, sentia-se feliz.
Mas agora já não tinha livros de histórias. Agora o sorriso triste não era o da mãe, era o dela. Agora a menina que a olhava do outro lado da mesa, não era ela, era a filha dela.
Olhou para a filha, não para além dela. Olhou para a filha e sorriu. O sorriso que a filha lhe retribui, fê-la tomar a decisão.
Elas deixariam de fazer parte daquela história. Seriam sim as personagens de outra história. A história de uma família feliz, com um final feliz, com uma mãe sorridente e sem prateleiras de mercearias onde se guardassem as esperanças de felicidade de uma filha.
Para trás ficaria o seu passado e o seu presente. O minuto seguinte seria o seu futuro e o da filha.
Agora só lhe restava aguardar que o João chegasse e rezar para ter forças para lhe falar da família feliz.
Voltou a olhar para o copo. Não, na verdade para além do copo, muito para além…
Decreto-Lei decretado por PrincesaVirtual às 10:26

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