Adoro crianças. Especialmente aquelas espevitadas, que posso provocar e que consigo um retorno verdadeiramente delicioso.
Mas confesso que algumas até para mim são demais.
Hoje e porque estava a observar uma que estava no café perto de mim, lembrei-me de uma situação que se passou comigo e com uma dessas crianças.
Foi numa das muitas sextas-feiras em que estava verdadeiramente estafada. Que levantar um braço é um sacrifício, que esticar uma perna um desafio, na verdade a única coisa que não me custa é rir.
Apanhei o metro e sentei-me num banco ao lado de um rapaz. À minha frente tinha uma menina de aproximadamente 7 anos e ao seu lado a mãe.
Como nesse dia estava mesmo cansada e stressada resolvi colocar uns «phones» para ouvir um pouco de música e desligar-me.
Assim que os coloquei a menina que estava á minha frente tocou-me no braço e perguntou-me:
- Como te chamas???
Tirei os «phones» e respondi, enquanto a mãe sussurrava qualquer coisa ao ouvido da menina.
Voltei a colocar os «phones», nem um segundo passou e ela tocou-me novamente no braço. Retirei os «phones» e ela perguntou:
- Que idade tens????
Voltei a sorrir, respondi e coloquei os «phones», posso-vos assegurar que era uma criança q.b. curiosa e por muito que a mãe dissesse:
- ÓOO Ana Rita deixa a senhora. A senhora está a ouvir musica.
Enquanto eu deitava um sorriso em sinal de agradecimento à mãe da menina por ter reparado que a filha me estava a incomodar. A Ana Rita não desistia!!!!
Bom passado uns minutos de tanto tirar os «phones» (aliás já me doía as orelhas de tirar e colocar), responder ás perguntas da menina e ver o ar exasperado da mãe que de forma alguma conseguia travar a curiosidade da menina, acabei por guardar os «phones» na mala e predispus-me a dar toda a atenção à Ana Rita.
Óbvio que enquanto isso as pessoas sorriam e lá iam comentado que tinham filhos da mesma idade, que eram todos iguais e blá blá
Enquanto isso o rapaz ao meu lado sorria timidamente e depois de ver que fui literalmente obrigada a jogar à sardinha com a menina, comecei a vê-lo a mexer-se no banco.
E tinha razão para isso, é que a curiosidade da Ana Rita relativamente à minha pessoa começava-se a esgotar e ela já tinha lançado umas perguntas ao meu vizinho do lado que se mantinha completamente em silêncio e «siderado» nessa altura.
Lembro-me que o rapaz muito arrumadinho no seu fato, fartava-se de olhar para o mapa das estações, na esperança que a dele chegasse mais rápido.
Pois
mas Ana Rita era rápida. Voltando-se para o rapaz disse que queria fazer uma lenga-lenga com ele e isto fazendo aquela brincadeira de meninas em que elas batem as mãos.
Confesso que por pouco não em desmanchei a rir, com o ar verdadeiramente assustado do rapaz. Ele respondeu numa voz sumida:
- Eu não sei
A mãe da Ana Rita disse mais uma vez para a menina ficar quieta. Mas a Ana Rita não desistiu e fez uma pequena demonstração comigo de como a coisa funcionava.
Confesso que nesta altura estava verdadeiramente deliciada e divertida.
O rapaz continuava a dizer que não sabia. Até que eu tive uma intervenção divinal:
- Olhe, coloque as mãos em posição e a Ana Rita bate nas suas e depois a lenga-lenga é fácil. Dizemos os três a lenga-lenga!!!!
A Ana Rita bateu as palmas deliciada (ouvi algumas gargalhadas) e o rapaz lançou-me um olhar de incredibilidade. Bom de qualquer das formas a minha reputação de senhora séria já era, (foi-se com o jogo da «sardinha») não tinha muito a perder e nunca, mas nunca, perco uma oportunidade de me divertir!!!
Pois é
correu bastante bem!! Apesar do rapaz ser um pouco desajeitado, de qualquer das formas julgo que as gargalhadas que se ouviram também não ajudaram muito.
A Ana Rita saiu primeiro que nós os dois e marcou encontro para o dia seguinte ( confesso que passei a apanhar um metro que passava 15 minutos antes ou 15 minutos depois), o rapaz saiu a seguir mas antes mesmo de sair voltou-se para trás e perguntou:
- Desculpe, qual foi o horário do metro que a senhora e aquela menina apanharam???!!!
Lembro-me que as portas se fecharam (sem que eu tivesse respondido) e até chegar à minha estação não consegui parar de rir.