Quarta-feira, 28 de Setembro de 2005

O dedo mindinho do assédio....

dedomindinho.jpg
Hoje vinha a entrar no escritório e lembrei-me disso. O assédio de cariz sexual no trabalho.
Lembro-me de ver um filme há uns tempos que abordava esse assunto (passado nos estates). O assediado era um homem, a assediadora uma mulher lindíssima. No fim ela foi presa, despedida…enfim arrastada pelas ruas da amargura.
Um amigo viu comigo o filme e comentou há bom português e «macho man» : «Que maricas (foi outra a palavra utilizada a dos profissionais das panelas, mas não quero que o meu blog baixe de nível e suba de interesse, não ficaria bem a uma princesa) se fosse comigo …. .….» bom, lembro-me que foi bastante eloquente. E só se calou quando lhe lancei um olhar furioso.
Aquilo que me lembro de assédio, nada tem a ver com o filme.
Lembro-me de algumas situações que se passaram comigo, quando comecei a trabalhar. Uma tímida profissional, «naife» e ingénua.
Lembro-me do incómodo que as situações me provocavam e como ficava danada de não puder dar uma canelada nos assediadores ( a maldita da ética profissional não me deixava) .
Lembro-me que um dos administradores de uma empresa onde me deslocava em trabalho, sussurrar-me ao meu ouvido uma canção «morena ou morenita…cada vez estás mais bonita» , ia aos pícaros!!!! Ele era um verdadeiro artista na forma como o fazia, pois nos segundos seguintes já estava a discutir débitos e créditos comigo. Ainda hoje me arrepia essa música.
Lembro-me de uma outra situação em que um senhor tinha a mania de saltar dos gabinetes quando me via passar e dizia « aiiii aiiii se não fosse casado!!!».

E eu estoicamente aguentava-me. Sem pestanejar, sem esboçar um único movimento de agressão ( e olhem que me custava imenso).

Hoje em dia é diferente!!! Para além de um ar profissional e distante que coloco, tenho um estatuto que me permite de uma forma «Professional» dar uma valente CANELADA a algum engraçadinho.

No entanto não impede que as coisas aconteçam com outras as pessoas. Num trabalho em que estava reparei que uma rapariga da minha equipa se mostrava muito incomodada, sempre que lhe pedia para ir buscar uma informação ao Sr.XYZ.
Mais do que isso parecia nervosa…
Depois de algumas investigações junto da restante equipa, contaram-me que o tal Sr. XYZ, nutria algum apreço pela minha colega. Assim sempre que ela tinha uma duvida ele puxava uma cadeira para junto dele para ela se sentar e nos meios dos débitos e créditos o dedo mindinho do caro senhor, dedilhava as pernas da minha colega…Não era qualquer outro dedo, era o DEDO MINDINHO.
Confesso que tive um ataque de riso. Mas a rapariga era o membro mais novo e eu re-lembrei-me do meu embaraço no passado, com situações dessas.
Resolvi que deveria ter uma conversa com ela. Expliquei-lhe que se sentisse muito incomodada deveria falar comigo. Que éramos profissionais e como tal eu não admitia que ninguém da minha equipa tivesse sujeita a esse tipo de coisas, que ela própria deveria de arranjar maneira de mostrar á pessoa que estava incomodada…blá blá blá. Senti que ela estava mais confortável, era novinha mas como lhe tinha dado o «meu ombro», sentia-se mais confiante.

Nessa tarde o dito senhor entrou na sala. A minha colega empertigou-se e vi-lhe um olhar brilhante na cara (não reparei na altura que tinha brilho a mais).

O Sr XYZ fez um sorriso e acercou-se da minha colega e disse-lhe:

-Olhe Dra. trouxe-lhe um pastelinho de nata da rua. Ouvi dizer que gosta muito.

A minha colega olhou para mim á espera de uma força ( para mal dos meus pecados não reparei que já estava confiante de mais). Eu dei-lhe um sorriso de incentivo, enquanto a restante equipa tentava conter o riso. E foi ai que ela respondeu ao Sr. XYZ:

- Muito obrigado. Mas a fonte da sua informação não é idónea.

Eu pensei…uauuuu a miúda safou-se bem. A restante equipa estava a tentar-se esconder atrás das folhas e computadores mortos de riso.

Pensei ok o Sr.XYZ vai mostrar uns laivos de inteligência e retira-se. Mas não!!!! Voltou ao ataque :

-Dra ande lá. Coma lá o pastelinho de nata. Olha que as minhas fontes nunca se enganam!!!

E antes que eu tivesse tempo de intervir. Ouvi a minha colega responder, ao mesmo tempo que colocava o seu melhor sorriso:

- Olhe Sr. XYZ coloque a PORCARIA do pastelhinho de nata no seu dedinho mindinho, uma vez que parece que o pobre se sente deslocado na sua mãozinha!!!!

Sem acusações, processos em tribunal, testemunhas, burocracias… and so on!!!! Resolveu-se tudo á boa maneira Portuguesa. Troquei o trabalho da minha colega com um dos rapazes da equipa, o Sr. XYZ nunca mais ofereceu pasteis de nata á minha equipa e segundo o meu colega com ou sem pastel de nata arranjou maneira de ocupar o dedinho mindinho.

Tive uma conversa séria com a minha colega, expliquei-lhe que deveria ser mais subtil e profissional.

Mas no fundo, no fundo… senti-me vingada naquele momento ;)


Decreto-Lei decretado por PrincesaVirtual às 18:28

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Domingo, 25 de Setembro de 2005

No comments....

Recebi este endereço por mail. Apesar do seu conteúdo não ter nada de «novo», confesso que me doeu a alma e fiquei com o coração pequenino. Raio de inércia a minha....raio de indiferença a minha... raio de mania a minha de olhar para o lado...

O grande problema é que não é minha mas NOSSA. :(


http://www.ekincaglar.com/coin/flash.html
Decreto-Lei decretado por PrincesaVirtual às 18:13

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Sábado, 24 de Setembro de 2005

Hoje vou-vos falar de mim....

Vou falar-vos do que não gosto nas pessoas e do que gosto.
Com o passar dos anos a minha lista tem aumentado. O que por um lado se torna assustador nos «não gosto» é equilibrado por um crescimento sustentado e proporcional no «que gosto»..
Nem sei por onde começar.

Começo pelo que não gosto:

Não gosto de pessoas más.
Não gosto de inveja.
Não gosto de ciúme.
Não gosto de pessoas que tem actos impensados e ainda menos gosto de desculpas sentidas e esfarrapadas.
Não gosto de pessoas que não sabem amar.
Não gosto de pessoas que fomentam exclusões, xenofobismos e descriminações.
Não gosto de pessoas pouco claras.
Não gosto de pessoas deprimidas e baças.
Não gosto de pessoas sem horizontes e sem sonhos.
Não gosto de pessoas sem expressão.
Não gosto de pessoas dissimuladas e apagadas.
Não gosto de pessoas sem convicção.
...
O que eu gosto:

Gosto de pessoas com brilho no olhar.
Gosto de pessoas boas.
Gosto de pessoas convictas e expressivas.
Gosto de pessoas que choram e riem.
Gosto de pessoas com sonhos.
Gosto de pessoas que aceitam as outras.
Gosto de pessoas que olham para o horizonte com um sorriso.
Gosto de pessoas que me fazem dar uma volta a mim mesma.
Gosto de pessoas inteligentes e bem-humoradas.
Gosto de pessoas guerreiras.
Gosto de pessoas que sabem amar.
Gosto de pessoas impulsivas mas que sabem onde está a linha invisível que não as deixa ir mais além, evitando desculpas sentidas e esfarrapadas.
Gosto especialmente de pessoas que se amam a elas próprias antes de amarem os outros.
Gosto de pessoas frontais e verdadeiras.
…..

Hoje apeteceu-me escrever isto… talvez porque ultimamente passo o tempo a fazer a lista mentalmente. Queria vê-la escrita.
Por outro lado ando a utiliza-la na prática. Ou seja cada vez mais me quero ver rodeada das pessoas que aprecio e cada vez menos quero perto de mim as pessoas que não gosto.

Enfim coisas de PRINCESAS (plebeias) :)
Decreto-Lei decretado por PrincesaVirtual às 12:40

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Terça-feira, 20 de Setembro de 2005

A «COISA»...

a coisa.jpg
Aiiiii tinha que se despachar. Sempre que pensava um pouco nesta «coisa» arrepiava-se. Só podia estar louca. Louca não…insana!!! A palavra insana sempre lhe pareceu pior que louca. Insana era qualquer coisa sem volta a dar.
Ela uma mulher inteligente (bom ela achava que era), formada, financeiramente, independente, uma boa casa, um bom carro, uma família bastante equilibrada (aqui era um ponto que gostava sempre de frisar), família equilibrada, igual a bases equilibradas, igual á pessoa que ela era. Aos 33 anos mantinha tudo no sitio, mamas no lugar sem precisar de utilizar os famosos soutiens up-up e muito menos silicone, rabo sem grandes problemas, pernas ok, uma carinha que não lhe causava desgosto, alta… . Ahhh e apesar de não ser casada mantinha uma ligação de 4 anos com um homem lindo, inteligente, a inveja de todas as mulheres, não se poderia dizer que fosse uma ressabiada, uma trintona seca e azeda.
Mas então porque raio aquela «coisa»…
Amava o namorado quanto a isso não tinha duvidas. Se bem que face ao stress do dia-a a-dia, a monotonia dos dias muitas vezes iguais a eles próprios, já não sentia aquela adrenalina, aquele nervosismo de satisfação sempre que se encontravam.
Mas enfim, as amigas queixavam-se do mesmo nos casamentos ou namoros como o dela. Para ser sincera queixavam-se muito mais, muito mesmo…
Um dia no escritório tinha apanhado a secretária a fazer «aquilo». Para ser sincera nem se tinha apercebido da «coisa», não fosse a secretária ficar vermelha e quase ter saltado para cima do monitor para o tapar (uma vez que não teve tempo de fechar a «coisa»).
Ela fingiu que não tinha visto nada, gostava da rapariga.
Mas nesse mesmo dia á tarde quando não estava muita gente pediu-lhe que lhe trouxesse um café e aproveitou para lhe falar no assunto:

- Ana, diz-me lá uma coisa que raio era aquilo que á bocado tapaste tão depressa.

Ela era assim frontal, e viu as cores assomarem de novo á cara da secretária. Começou a rir para tentar aliviar o clima. E funcionou.

- Bem sabe doutora, é uma forma de fazer amizades. Um CHAT!!!

E foi assim que a «coisa» surgiu. Atentamente foi ouvindo o que a Ana lhe dizia.
Local de amizades, taradices, encontros amorosos, enfim até (segundo a opinião da Ana) um local para «quecas» ocasionais (virtuais e reais). Um verdadeiro «Self-Service» de emoções.

Nessa noite entrou pela primeira vez na «COISA».
E desde ai aquilo tornou-se num vício. Mas agora a «COISA» tinha-se apoderado dela.
Passava o tempo a olhar para o relógio, tinha que chegar cedo a casa. Tinha encontrado na COISA uma pessoa maravilhosa o «o_fofo».
Todos os dias teclava com ele. Ele era maravilhoso. Sensível, educado, poeta, musico, formado, inteligente…enfim MARAVILHOSO.
Agora raramente estava disponível para os encontros reais com o namorado, se bem que desde há um tempo para cá, reparou que o namorado pouco insistia.
Quase que lhe fazia os convites por favor, e parecia aliviado sempre que ela lhe dizia que não podia. Tanto melhor.
Ela tinha a certeza que gostava dele…bem para ser sincera já não tinha tanto.
Passava a vida a fazer comparações com o_fofo, ele não era tão sensível, nem tão inteligente, nem poeta (aqui ela ria-se mesmo, não imaginava o namorado a falar de poesia).
O_fofo, entendi-a como mulher. O_fofo tinha alma de mulher.
Meu Deus, e o pior é que sentia aquele «nervosismo» quando se sentava em frente do computador.
Para que tudo corresse bem, hoje tinha telefonado ao namorado, ia-lhe dizer que estava cheia de dores de cabeça (para ele nem ter ideias de aparecer lá em casa ou de a convidar para sair) mas nem foi preciso, ele estava doente tinha comido algo estragado. Que alivio detestava mentir !!!!
Bolas já estava atrasada!!!!
Tinha que ir á lavandaria buscar o vestido preto e ainda tinha que tomar banho, arranjar o cabelo, pintar as unhas, maquilhar-se….bolas bolas!!!!
Tinha combinado um encontro com ele. Tinha-se recusado a trocar fotos. Isso não lhe interessava, ele podia ser horroroso fisicamente, mas era uma pessoa fabulosa.
Por isso tinham combinado que ela levava um vestido preto, com um alfinete prateado um pequeno escorpião e ele levaria um pólo vermelho.
Quando chegassem ao restaurante telefonariam (tinha trocado os números nessa noite) e assim facilmente se identificariam.
Por estranho que aquilo parecesse, nem sequer os nomes verdadeiros um do outro sabiam.
Nunca se sentira tão nervosa. Sentia-se como se tivesse 13 anos, quando pela primeira vez foi beijada, isso fê-la sorrir. Foi o pior beijo da vida dela, estava tão nervosa que apenas se concentrou no contacto físico das línguas e a troca de saliva. Não fosse o facto de puder dizer ás amigas que já tinha sido beijada, teria sido uma decepção aquele beijo.
Bom ia telefonar. Telefonou. Ele atendeu, uma voz que lhe dizia algo. Ela rodou a cabeça e foi quando o viu. E foi quando sentiu o frio no estômago, a adrenalina.
Sim aquela voz dizia-lhe tudo.
Ainda o ouviu a perguntar «- então onde é que estás???» antes de desligar e sair do restaurante a correr.
Agora, já estava mais calma. Enquanto beberricava um chá, pensava na maldita «COISA». Para ser sincera depois da crise de choro que tivera, só lhe apetecia rir.
Tinha que resolver aquilo, antes que passasse de louca a insana.
Resolveu telefonar ao namorado. O telefone tocou e aquela voz que lhe dizia tanto atendeu e antes que ele tivesse tempo de falar ela disse:

- Olha hoje tinha que te telefonar, para te dizer que és um homem maravilhoso, inteligente, sensível. Que tens uma alma de mulher. Que me entendes. Hoje meu querido apetece-me tratar-te por FOFO.

Depois de um longo silêncio do outro lado ouviu:

- Achas que pudemos jantar fora amanhã?? Tu levas novamente o teu vestido preto com o alfinete prateado do escorpião e eu levo novamente o meu pólo vermelho. E não desligues quando eu atender…

Ela ainda estava a sorrir quando desligou. Agora já tinha afastado a sombra da insanidade.

@ uma história totalmente ficticia. Espero que se divirtam tanto a lê-la como eu a escrevê-la. Um aviso cuidado cibernautas «eles andem aiiiii» ehehe :)
Decreto-Lei decretado por PrincesaVirtual às 18:21

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Quinta-feira, 15 de Setembro de 2005

O filho, o pai e a piscina...

piscina.jpg
Ela não entendia a fúria dele, nem a razão porque estava tão zangado. Mas enquanto pensava na situação, não conseguia conter o riso (na verdade era mais umas gargalhadas que tentava a todo o custo abafar, pois ele estava na sala ao lado).
É verdade que a situação deve ter sido constrangedora, mas era muito fácil de explicar.
Todas as pessoas que conhecia e que tinham filhos, usualmente tinham nomes ou expressões carinhosas para com eles.
Sim!!! E nem precisava ir muito longe . Lembrava-se dos nomes «carinhosos» que eram adoptados por determinados casais tipo «minha andorinha, meu pombinho, meu rom-rom….», se bem que eles nunca tinham sido adeptos dessas formas tão «carinhosas», nem mesmo em namoro, mas riam-se bastante com os amigos.
De facto ele tinha empolgado a situação e o pior é que agora estava danado com ela. OK OK…ela sabia que tinha exagerado nas gargalhadas e nem o olhar furioso dele a tinha feito parar.
Ela tinha o hábito de quando estava a vestir o filho de 1 ano e meio de brincar com ele. No meio das gargalhadas que ambos davam, muitas vezes quando lhe mudava as fraldas ela dizia-lhe «aiiii que a mamã te vai papar a pilinha!!!». Ele rebolava-se a rir, enquanto se contorcia todo. Ela adorava aquele risinho.
O marido tinha chegado a casa nesse dia e tinha dito «- Olha lembras-te de te ter dito que ia experimentar levar o miúdo comigo para a piscina??? Já lhe comprei um roupão, uma touca e até uns chinelos!!!», e abanou-lhe com as preciosidades que tinha comprado na cara, com um sorriso enorme e triunfal.
Ela sorriu e achou divertido o entusiasmo dele. Quando disseram ao filhote que ia com o papá para a piscina, ele bateu as palmas de contente enquanto pulava em redor do pai.
Saíram. Passado 1 hora regressaram. O filhote com o mesmo sorriso de alegria, o marido com um olhar estranho e com as sobrancelhas arqueadas (um sinal que estava irritado, stressado ou furioso).
Ela pensou hummm , querem ver que o miúdo não quis entrar na piscina, ou pior não quis vestir as «preciosidades» que o pai lhe comprou???!!!!... De repente ouviu o marido exclamar:

- Aviso-te já que aquelas brincadeiras que costumas ter com o miúdo tem que parar I-M-E-D-I-A-T-A-M-E-N-T-E!!!!!!!.
-Hãnnnn???!!! Que brincadeiras???!!!

E foi então que ele conseguiu respirar um pouco e contou-lhe aquilo que ele considerou «a maior vergonha da vida dele»!!!!
Conta ele que quando chegaram, deixaram as coisas no vestiário e dirigiram-se para a piscina. Correu tudo muito bem, o filhote portou-se optimamente bem e adorou.
Ao fim de 40 minutos, saíram da água e dirigiram-se aos vestiários para tomar banho e vestirem-se.
Parece que ia haver umas aulas e outra tinha acabado. Bom o vestiário estava cheio de homens, uns que tinham acabado de tomar banho, outros que se mudavam.
Ele despiu o filhote e a seguir despiu-se a ele.
E foi nesse momento que tudo aconteceu!!!!
O filhote virou-se para o marido e disse «-ÁAAA papá anda cá o menino vai-te papar a pilinha» e enquanto isso abria a boca em direcção ao marido.
Apesar da tenra idade o filhote era muito claro e perceptível, nas palavras que dizia. Afirmava-lhe o marido, que perante um olhar admirado de todos os presentes e depois de chocados (diz ele que apostava em como alguns estavam a pensar em pedofilia) desenrolara-se uma das piores cenas da vida dele. Com uma mão segurava o filhote que de boca aberta insistia na brincadeira (julgando que o pai estava também a brincar) enquanto lhe dizia para falar baixo, o que obviamente só fazia com que ele se contorcesse de riso e repetisse a mesma frase e cada vez mais alto.
O marido terminou a história a dizer que o filho quando crescer deve ser actor, pois só parou quando a audiência desapareceu.
Ela conseguiu-se conter durante toda a história. Mas já estava com falta de ar, os maxilares doíam-lhe da força que fazia para não rir.
Desmanchou-se. Caiu de joelhos enquanto chorava de tanto rir.
Viu o olhar atónito do marido e antes de ele desaparecer na sala ouviu … «-a partir de amanhã és tu que vais com ele para a piscina a minha reputação está manchada!!!»
Enfim, sem duvida ele estava a empolgar tudo, tinha a esperança que amanhã o humor do marido voltasse e se risse com toda aquela história. Homens!!!…
Decreto-Lei decretado por PrincesaVirtual às 10:18

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Terça-feira, 13 de Setembro de 2005

O Altinho (Parte II)

altinho.jpg
Deixo-vos com a parte II do altinho do FOOTPRINTS. Imperdivel!!! :)

...

Pelo caminho vi uma etiqueta no cimo de uma porta fechada: Sala de Reanimação. "Puxa!" pensei.
Cheguei lá. Não vi nenhum balcão mas a placa era inequívoca: "Balcão de Homens". Realmente... Julgo que o meu lábio se deve ter levantado um pouco quando imaginei um balcão e médicos a servir gente com pernas partidas, cabeças rachadas ou outras mazelas.
Um médico lingrinhas e com bigode de motorista de taxi perguntou-me se eu era quem sou e eu disse que sim. Fez-me sentar e ele ocupou um dos dois lugares que ficavam no lado oposto da secretária. No outro lugar, uma médica, certamente recém formada, com uma mão escrevia qualquer coisa num papel e na outra apoiava a cara que era bem o espelho do desinteresse que o serviço de urgências hospitalar mais necessita.
Após uma série de perguntas feitas pelo taxista, este levantou-se e chegando-se ao pé de mim, disse: "Mostre lá isso".
Não me foi difícil fazer-lhe a vontade. Após uma série de “apalpinhações” e olhares de vários ângulos, exclamou para quem o não quis ouvir: "Hum."
Mais toques e mais uma ou duas perguntas. Pelo meio reprimi um "au". Mas ele, sagacidade da sagacidade, descobriu-me a careca: "Dói-lhe?". "Pois. Um pouco. Quando me carrega... aí!"
"Hum.".
Afastou-se de mim e voltou calçando umas luvas de látex (creio ser este o nome do material) fazendo-as estalar como parece ser praxe. "Abra a boca e vire-se para aqui." O aqui era de onde vinha a luz mais forte da sala. Pôs-me o polegar direito dentro da boca e andou a entreter-se com o interior da minha bochecha.
"Ó (não me recordo do nome), chega aqui. Vê lá se concordas que isto seja um quisto da (nome incompreensível).". O outro espreitou... e espreitou. "Deixa-me lá ver eu.", disse enquanto se fui equipar com umas luvas idênticas e respectivos estalos. Chegou-se ao pé de mim desviando o esquelético para o lado.
Os seus métodos eram um tudo nada diferentes deste: enquanto o outro dizia, este fazia. Não sei se apenas não usou tabefes e murros para me pôr a cabeça no sítio onde achava que tinha mais luz devido ao olhar que lhe fiz ou, se foi por qualquer outro motivo. Cheguei à posição pretendida "apenas" com empurrões. A única frase que se dignou dizer-me foi para abrir a boca. Nessa altura senti-me desiludido com ele: estava à espera que me a abrisse segurando ao mesmo tempo pelo queixo e nariz e puxando. Parvo.
Os seus métodos e a sua gentileza táctil fez com que deixasse de ter inibições e soltasse ais e uis cada vez que a dor apelou a tal.
No fim da sua observação virou-se para o taxista e disse: "É. Manda para a plástica.". Deu um quarto de volta, mandou com as luvas para o lixo e desapareceu de cena.
O taxista que tinha assistido a todo o espectáculo com as mãos atrás das costas, talvez com receio de atrapalhar o desempenho do actor principal, anuiu com a cabeça e voltou à posição inicial na secretária. Esqueceu-se de fazer continência.
A médica recém promovida à classe estava agora mais desperta. Depois vim a perceber porquê.
Duas palavras começaram a fazer-me cócegas incomodativas cá no miolo: uma que não tinha entendido e plástica. Não esperei que o bigodes acabasse de escrever aquilo que possivelmente me mandaria para a dita plástica: "Sr. Doutor. O que é que eu tenho?". O Sr. Doutor interrompeu-se na escrita e explicou-me: "É um quisto da parótida.". Mas como o meu olhar e a minha expressão não tenha demonstrado algo que ele esperasse, continuou enquanto assumia o ar professoral exigido pela situação: "Nós temos glândulas salivares em ambos os lados da cara. São essas glândulas que produzem a saliva que temos na boca. Ela é transportada desde as glândulas por uns pequenos canais. O que lhe terá acontecido foi num desses canais ter entrado alguma impureza, costumamos chamar-lhes areias, que gerou uma inflamação e, com ela, o inchaço. Mas agora vai um pouco à sala de espera enquanto aguardamos pelo cirurgião. Ele não vai demorar.".
E, como com isto tinha esgotado as palavras que me estavam destinadas, assim o fiz.
Pelo caminho fui repetindo: parótida; parótida; parótida. Não me queria esquecer.
Assim que cheguei à sala pedi uma caneta a uma fulana que tinha ar de quem tem caneta, e fiz o apontamento. Agora o Alto já tinha um nome.
Algumas, melhor, muitas dúvidas começaram a assaltar-me: "Que raio me está a acontecer? Que merda será esta? Vou ser operado?" e mais mil e tal perguntas com que decidi bombardear o cirurgião quando o tivesse pela frente.
Não tardou muito até que a mesma voz repetisse o que havia dito: "João... brrrz ...donça, Bal...brrzt de Homens.". Agora havia interferências no intercomunicador mas deu para perceber.
Voltei a percorrer o mesmo caminho. A sala de reanimação tinha agora a porta entreaberta. Como é obvio para mim que me conheço, tinha de espreitar. Não gostei do que vi: alguém, de bata branca dava murros no peito de alguém que estava deitado e não tinha bata branca. "Porra!" pensei.
Balcão de Homens. O taxista disse: "Sente-se aí." e desapareceu por trás de mim.
Voltei a ocupar o mesmo lugar. A recém médica estava agora muito mais direita e composta. Sorriu para mim. Num reflexo retribui-lhe o sorriso mas ela já não me olhava. Toda a sua atenção estava voltada para quem, nas minhas costas, me disse: "Volte-se lá.".
Obedeci. A voz pertencia aquele que mais que provavelmente vai ser eleito o médico modelo do ano e dos próximos que se seguirão. Uma espécie de António Banderas com rabo de cavalo e bata branca. Percebi mediatamente o interesse e mudança de atitude da jovem desde que se tinha falado em cirurgia plástica. Sou um génio.
Começou nova série de observações. Esta acompanhada de perguntas muito mais detalhadas. Pobre, o taxista. Pobre, o outro bruto. Quem eram eles comparados com o Banderas? Uns meros zeros.
Durante a minuciosa observação não pude deixar de constatar que as luvas que me tocavam o exterior e interior da boca pertenciam às mãos de um ser superior. Na pose, na atitude, na presença, até no respirar daquele sujeito estava escrito: eu sou médico; eu quero; eu posso; eu faço; eu curo; eu sou Deus. O António não era modesto.
A determinada altura, acrescentou outro adereço: uma gaze empapada num liquido gelado que me enfiou na boca e que, encostada à bochecha, me fez gelar esta. "Tente não respirar pela boca agora." disse-me na sua voz profissional.
No meio disto tudo vi pelo canto do olho o bruto entrar na sala. Dirigindo-se ao taxista magrinho que assistia, na sua posição preferida - mãos atrás das costas - à performance do clinico Banderas, disse: "Zé, consegui reanimar o gajo!" e guardou os Colts nos coldres.
Pensei: "o gajo é o desgraçado que eu tinha visto deitado e a levar murros no peito. O gajo safou-se. Pelo menos desta o gajo já não patina. Porreiro para o gajo. Viva o gajo."
Fiquei contente. Até com o bruto. Safou a vida do gajo.
Zé, ex-taxista, perdera todo o interesse em mim e agora ouvia extasiado a história do bruto. Mas isto não durou muito pois Mr. Banderas, que, com a ajuda da gaze e respectivo liquido, já quase me tinha conseguido arrancar a bochecha, chamou-o: "Zé! Vês? Vês ali?" disse-lhe, apontando para o interior da minha boca, parte lateral, enquanto que com a outra mão esticava mais um pouco a bochecha. Era fundamental que o Zé visse. Por outro lado, fez que eu aprendesse que uma bochecha é algo muito mais flexível que qualquer humano distraído possa imaginar.
Zé olhou para onde o outro apontava e fazia que sim com a cabeça enquanto ouvia as explicações que lhe eram sussurradas ao ouvido.
Embora não me tenha manifestado, sobretudo porque a minha bochecha estava em poder de alguém que não eu, fiquei revoltado por não me ser dada oportunidade de ouvir a explicação. Afinal o Alto, agora quisto, a bochecha e a boca pertenciam-me. Preparei-me para, no fim, disparar todas as perguntas que me ocorressem em direcção a Deus Banderas.
A sessão chegou finalmente ao seu termo. O médico modelo largou-me e eu, rodando sobre mim próprio acompanhei-o com o olhar. Ele ocupou o lugar à secretária que outrora pertencera ao Zé. Este ficou de pé.
António começou a escrever e ao mesmo tempo a explicar-me o que se passava comigo. As palavras que empregou foram praticamente idênticas às do Zé. Apenas acrescentou que me iria dar um antibiótico e um anti-inflamatório e que eu iria à consulta de cirurgia plástica do Hospital André Miller no dia... pensou... contou pelos dedos... 17 de Abril, onde ele me observaria novamente. "Não." antecipou-se à minha pergunta: "Basta mostrar lá este papel. Não é preciso fazer mais nada. Bem... talvez seja melhor telefonar no dia anterior para ver se realmente há consulta. Pode não haver.". Fiquei muito agradecido pela sua atenção e por me ter lembrado daquele pormenor quase sem relevância: pode não haver.
A doutora novinha seguia todos os seus movimentos e palavras com fingido desinteresse mas a Banderas nada passa despercebido. Tinha terminado de passar-me a receita, virou e revirou os bolsos e voltando-se para ela, perguntou: "Colega. Tem uma vinheta que me empreste?".
Ela respondeu que sim e, enquanto lha entregava, disse-lhe: "Filipa. É o meu nome."
Ele anuiu e após um instante estratégico, perguntou num tom distante e também desinteressado: "Podemos tratar-nos por tu?".
Ela, após um instante estratégico e com um tom distante e igualmente desinteressado, respondeu: "Pode... Podes.".
Ficaram ambos desinteressadamente felizes.
Eu é que não o estava. Sentia-me infeliz e sem interesse nenhum em o estar. Decidi-me:
"Doutor. Não há nenhuma possibilidade de isto ser outra coisa. Por outras palavras: está completamente seguro?"
Ele respirou fundo e aquiesceu em esclarecer-me: "É assim: como me diz que isso apareceu praticamente em dois dias ou menos, não há motivo nenhum que me leve a pensar outra coisa. É com certeza um quisto motivado por "areias". Mas, bom... mesmo com pouquíssimas hipóteses de o ser... enfim... também não podemos excluir ainda por completo a hipótese de ter acontecido uma qualquer degeneração celular.". Estas duas últimas palavras foram proferidas num volume sonoro muito mais baixo que as restantes.
Respirei fundo.
"Devo entender por isso... cancro?"
"S-sim..." disse ele.
Respirei fundo.
Respirei fundo.
"É capaz de me pôr isso por números? Que percentagem atribuiria a cada uma das hipóteses?"
Pensou e falou: "Noventa por cento em como não é. Ou mais.".
Pensei e não falei: "Dez por cento em como é. Ou menos."
Levantou-se, deu-me um aperto de mão e disse-me: "Uma vez que os antibióticos comecem a fazer efeito e se o inchaço desaparecer tornár-se-há claro que não é. Adeus. Não falte à consulta.".
Apeteceu-me dizer-lhe o mesmo. Sobre o não faltar.
Levantei-me. Zé e Filipa olhavam-me. Lancei-lhes um sorriso que a ocasião impunha e saí.
Paguei a taxa de urgência e carimbei a receita.
Saí do hospital com menos de dez por cento de hipóteses de ter cancro.

O depois.
Fui a pé, flutuando em tamancos, até onde tinha deixado o carro.
Entrei e sentei-me.
Telefonar à minha mãe.
Resumo: "Mãe, sou eu. Olha, não te preocupes. É apenas uma inflamação no ouvido. Vou agora a uma farmácia aviar um antibiótico que me passaram. Tchau, tá manhã. Dorme bem."
Depois fiquei sentado.
Tão estranho.
Sempre pensei que se um dia me fizessem o anúncio de um cancro ele certamente estaria localizado nos pulmões. Para mim, um fumador de dois a três maços por dia, o único órgão que teria legitimidade para o reclamar seriam sem dúvida os pulmões.
Pensei em Frank Zappa. Dizia ele: "Eu não fumo. Eu como cigarros.".
Frank Zappa morreu de cancro na próstata.
"Enfim, a próstata sempre é mais digno. Mais masculino também.". Acho que sorri.
Mas... um cancro na saliva?!
Só a ideia per si a soa ridícula!
"Coisa meia tonta, a saliva: tanto pode ser objecto de agressão, violenta até, como de prazer; violento até."
Naquele momento prometi a mim mesmo: "Aconteça o que acontecer vou escrever um ensaio sobre a saliva!".
E que é que me vai acontecer? Isto é, se realmente for cancro será que me vão fazer um buraco na cara e retirar as células maradas? Ou será que vou morrer mesmo? Será... o quê?

- A melhor das hipóteses: isto é uma infecção e os antibióticos vão esgrimir, e ganhar a batalha às células traidoras. Aqui tudo bem. O inchaço passa. Vou lá à consulta, o idiota do médico estica-me novamente a bochecha e venho-me embora. Finito.

- A outra menos má: a infecção passa, mas é preciso intervenção cirúrgica para retirar as areias. Bem... aqui já não são grandes notícias. Mas pronto... algum dia havia de ser: a faca. Terei de saber mais informações sobre quem irá empunhá-la. Ser parecido com o António Banderas não me diz nada.

- Agora esta que já é mazinha: o quisto passa a tumor. Maligno ou não, vão ter de me descascar a cara. Escarafuncham, sacam-me cá para fora o que não presta e ficamos por aqui. Ficamos com o quê? Mais um buraco na cara? Pois... provavelmente encaminharam-me para a cirurgia plástica para evitar, prevenir ou, na pior das hipóteses, impedir que isso aconteça: ficar esburacado. Já me disseram que tenho um certo charme, embora apenas seja giro e não bonito. Mas se realmente não houver matéria que impeça o surgimento de um orifício essencial à prática do golfe na minha face a “gireza” vai às urtigas. Será que o charme resistirá?

- Pondo a pior hipótese: a morte. Sei que vou morrer um dia. Tenho perfeita, plena e total consciência que um dia vou deixar de existir e julgava que estava preparado para abraçar a Senhora quando ela chegasse.

Naquele momento, lá, sentado no banco do carro, perguntei-me: "Estou preparado?".
E respondi-me: "Não".

Fui comprar os antibióticos.
Decreto-Lei decretado por PrincesaVirtual às 10:10

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Domingo, 11 de Setembro de 2005

O Altinho (Parte I)

altinho.jpg
Altinho ( Parte I)

Vou colocar aqui um pequeno conto de um amigo meu o FOOTPRINTS. Eu pessoalmente acho que ele escreve deliciosamente bem.
Vale a pena perderem uns minutos a lerem e a seguirem o ALTINHO. :)




Vou começar pelo antes.
Na terça-feira reparei que tinha um altinho localizado numa espécie de terra de ninguém: onde o maxilar se aproxima da orelha. Um pequeno alto (curiosa expressão) que não me causava nenhum incómodo. Apenas estranheza. "Uma borbulha interior?" interroguei-me. Não sabia da possibilidade dessa existência.
Com o decorrer do dia, creio que me esqueci do... Alto (chamemos-lhe assim); foi promovido a personagem. Pelo menos não me recordo de me ter lembrado. Lembro-me, isso sim, de quando me fui deitar e enquanto esperava que o sono me levasse ter brincado com ele e mais uma vez me tenha interrogado sobre a sua proveniência, tendo mesmo posto em causa a minha memória: "Será que sempre tive isto e só hoje dei por tal? E será que toda a gente tem, sendo esta coisa uma parte dos nossos corpos? Mas se se tem porquê apenas num dos lados? Serei eu, ou seremos nós, assimétricos?" Dúvidas que me assaltaram mas, felizmente, não me tiraram o sono.
Outras coisas o tiraram. Até que ele veio.
Dia seguinte.
Pois. Fiquei convencido que não era toda a gente que tinha um Alto. Que eu conhecesse, apenas eu. É que... o Alto já não era um Alto altinho. Era um Alto alto. Muito.
Fui ver ao espelho. Não gostei. Agora estava definitiva e completamente assimétrico.
Toquei-lhe e carreguei. Au! O Alto dói. "Mau... Que raio será isto?" Borbulhas dão comichão. Picadas de insecto, idem. Mesmo assim procurei um furinho. O local onde algum ser pouco respeitador das faces alheias pudesse ter injectado qualquer produto “inchador”. Naquele momento veio-me à cabeça o "Alien". Apenas a imaginação a trabalhar mas mesmo assim um arrepio percorreu-me. Depois lembrei-me da aranha. Tenho uma aranha em casa. Até aqui só me tem dado alegrias: muito menos melgas no verão e traças sempre. No entanto... "Se ela foi capaz de me fazer uma coisa destas, terei que voltar a aprender a viver com melgas." pensei.
Só que... nada. Um absoluto nada. A pele estava lisa. "Mas que coisa! Que é que eu vou fazer a isto?"
Naquela altura não fiz nada. Que é que eu podia fazer? A única coisa foi lembrar-me que estava atrasadíssimo, pois tinha de passar pela minha mãe antes de ir para o emprego e as observações do Alto haviam-me feito perder tempo precioso. Como se todo ele não o fosse.
Cheguei lá. Ainda antes do bom dia: "Que é que tu tens na cara?" Gastei mais algum tempo para lhe explicar que não sabia. É estranho que seja tão complicado e demorado dizer "não sei" a alguém. Se não se sabe...
Minha mãe, hipocondríaca nas horas vagas - quase todas -, fez-me prometer que iria a um hospital mostrar o Alto. "Mãe, só dá lá para a noite. Vou ficar no trabalho depois de jantar. Tem de ser.". Mesmo dizendo-lhe que aquilo podia dar lá para as uma ou duas da manhã: "Não interessa. Telefonas-me que eu deito-me tarde. Estou acordada. Se não me telefonares é que não durmo.". Mães...
Durante o dia o Alto ficou lá. Não me pareceu que mexesse. Alguns colegas notaram, outros não. Alguns vêem.
Interrogatórios. Explicações. Comecei a amaldiçoar o Alto.
Jantei.
Agora sim. O maldito Alto começou a dar outros sinais de existência. Primeiro apenas uma pequena incomodação. Depois uma moinha. Mau...
Reconsiderei o pedido da minha mãe. Confesso-te: estava na disposição de não ir a lado nenhum e inventar uma mentirinha caridosa. É que... não-gosto-de-hospitais!
Mas aquilo começava a assustar-me. Sobretudo por não saber o que era.
Meia-noite e tal. Decidi: "Vou lá mesmo".

O durante.
Por vezes esqueço-me das coisas que me podem facilitar a vida nas mais elementares das formas. Desta vez, o esquecimento foi: conheço 3 pessoas que trabalham na recepção da urgência do Teófilo Armando!
Irra! É demais. Só me lembrei disto quando estava a fazer a inscrição para o atendimento no da zona, o Hospital da Sagrada Esperança.
Esqueço-me tão frequentemente que vivo no país das cunhas. Não senhor. Como cidadão temeroso da burocracia governante, a única coisa que me lembrei foi: o hospital da minha zona é o Sagrada Esperança e é lá que tenho de ir pois noutro lado não me atendem. Que burro! Três pessoas conhecidas numa urgência significa que, quase com toda a certeza, pelo menos uma delas estaria de serviço e, pronta a, foi o que me ofereceram, passar-me à frente dos outros infelizes, ser levado ao médico(a) com "carta de recomendação" e nem sequer pagar a taxa de urgência. Taxa de urgência. Não deixa de ser caricato...
Seria maldade minha se fizesse aquilo? Pouco civilizado e desonesto? Pois claro que seria! Mas... vejamos... vou dizer: já não me importo embora continue a importar-me. Compreende-se?
Mas, não senhor. Ali estava eu à espera de ser atendido por um funcionário que discutia ao telefone com não-sei-quem por causa de uma senhora Olga qualquer coisa que tinha tido alta, mas que quem estava do outro lado do telefone dizia que não, ao que o funcionário retorquia que sim porque era o computador mostrava: “A D. Olga já cá não está! Entrou às... não sei quantas e saiu também às não sei quantas”...
Desliguei-me da conversa. Pensei em voltar para trás e ir ao Teófilo Armando. Mas era tão longe. A ideia de ir para casa assaltou-me de repente. E era tão perto...
Eis senão quando chega outra funcionária! "É pá! Há dois!" Pensei com um lavo de jubilo. Ligou o seu computador, puxou a cadeira para trás, ajeitou uns papeis e abriu o postigo: "Quem está a seguir?"
Olhei para os lados e para trás. Apenas uns bombeiros a quem faltava a solenidade do local. Já nem sabia que era eu a seguir, tal era a vontade de tanta coisa.
Comecei a fazer a inscrição. "Porque é que vem cá?" Indiquei-lhe o Alto e ela olhou com uma expressão inexpressiva. Não concluí nada dali. Acabei de fazer a inscrição. Indicou-me a sala de espera.
Tive pavor de ver o que me esperava quando dobrei a esquina que leva à dita sala. E os meus temores foram devidamente confirmados: cheia.
Fiquei parado à porta. Desconsolado. Deprimido. Fiquei com o cérebro vazio - uma defesa que acontece em mim quando algo me faz sentir mal; muito mal. Distante sem estar em lugar nenhum.
Dei meia volta. Vim cá para fora e fumei um cigarro. Depois resignei-me. Entrei e consegui arranjar uma cadeira mais ou menos isolada. Do mal o menos.
Pouco tempo depois, muito pouco tempo mesmo, ouviu-se o trrrr do intercomunicador a ser ligado. "Lá vai um." Pensei. E a voz no altifalante chamou: "João...". "Oh! Há tantos." Pensei eu. "...Pedro Mendonça, balcão de homens!"
"O quê! Eu? Já?!" Uma sensação de total irrealidade invadiu-me enquanto comecei a andar após ter perguntado onde era o balcão de homens.
"Ou será isto um mau sinal?... Será que as pessoas com Altos têm entradas antecipadas?" Não conseguia pensar. Este pensamento não era digno desse nome.
Andei até ao chamado balcão de homens num limbo de névoa cerebral: a activação de todas as minhas energias e todos os anticorpos que possuo para sobreviver naqueles locais.

….. (continua)

Decreto-Lei decretado por PrincesaVirtual às 20:00

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Quarta-feira, 7 de Setembro de 2005

Uma viagem comigo...

africa.jpg
Há uns tempos atrás fiz uma viagem, até um novo continente.
África.
Hoje vou-vos levar comigo, vão viajar.
Vão «ver» África com os meus olhos e através das minhas palavras.
Na realidade o meu primeiro contacto com África aconteceu muito cedo, o meu pai é militar e esteve em Angola, decidindo levar a família com ele em várias missões. Mas não tenho qualquer lembrança dessa altura, era muito pequena.
Por isso vou-vos falar de África, mas daquela que conheci há pouco.
S. Tomé e Príncipe.
Lembro-me da primeira golfada de ar que respirei assim que sai do avião, quente, húmido e doce. Um cheiro doce.
Aquilo era África.
Não vos vou falar de tudo, apenas de um dos muitos momentos que talvez não vos consiga explicar, mas que mexeu comigo.
Posso-vos dizer que fiquei encantada, chocada, maravilhada e extasiada…
Na mala levava o livro «Equador» que acabei por ler mais tarde e que me fazia sorrir, porque eu tinha lá estado em cada um daqueles locais.
Julgo, que para me sentir uma personagem do livro, teria sido apenas suficiente que as roupas fossem as da época e que as roças funcionassem em pleno. Quanto ao colonialismo, estava lá numa forma mais «moderna», mas estava. Quanto, á forma de viver daquele «povo», estava lá…
Sorvi cada momento e retive as imagens e sensações mais fortes.
As paisagens, as praias, as roças, as pessoas…o colonialismo, a pobreza, o racismo.
Viajei, pela selva com um mapa na mão e visitei/descobri as roças do presente e do passado.
Algumas, pareciam saídas de um filme. Se fechasse os olhos quase que conseguia ver tudo a funcionar.
Mas na verdade a maioria estava pura e simplesmente em fase de degradação, eu tinha a certeza que se «soprasse» algumas delas se transformariam em pó.
Num desses passeios em que nos perdemos naquela selva de vegetação luxuriante, descobrimos uma roça, uma das que não fazíamos tenção de visitar.
Lembro-me que reparei que um jipe «branco» seguia um pouco mais á frente, pela mesma estrada que nós. A estrada que havia sido construída pelos portugueses á 60 anos ( a maioria delas já tinham sido engolidas pela selva, tornando impossível qualquer acesso a muitas das zonas da ilha a não ser que o fizéssemos por mar), dizer que era esburacada parece-me pouco, seria mais uma estrada «craterada» (acho que inventei mais uma palavra). Por praticamente não nos cruzarmos com qualquer viatura num dia inteiro de passeio, aquele jipe intrigava-me.
Por fim chegámos á roça.
Deixem-me dizer-vos, que as roças apesar de degradadas estão «habitadas».
Em S. Tomé, nunca se está só. Mesmo nos cantos mais recônditos da selva, acabam por surgir pessoas donde menos esperamos. O que confesso me trazia alguns problemas, quando pensava arranjar uma moita jeitosa para o meu «xixizinho». Costumava resmungar quando diziam que eu era muito esquisita, que tinha que ser desenrascada e blá blá… argumentava que há coisas que gosto de fazer sozinha e o «xixizinho» é sem sombra de dúvida uma delas. Mas adiante.
Os S.Tomenses são sem duvida um povo pacífico, acolhedor e simpático.
Como mencionei acima tínhamos chegado á roça.
Tinha perante mim uma clareira enorme, rodeada pela «Casa Grande», a casa onde o administrador da roça vivia no passado,(os donos das roças na maioria dos casos estavam em Portugal) e todas as outras casas em redor (oficinas, hospitais,…), mas degradada para não fugir á regra. Pobre, muito pobre a pobreza é infelizmente outra carecteristica desta ilha(s).
Aquela clareira enorme estava cheia de crianças, que jogavam á bola (uma bola de trapos). Mas o efeito daquelas crianças todas, dos risos, dos gritos, era verdadeiramente impressionante e colocou-me um sorriso na cara.
O jipe branco estava parado e dois homens tinham saído. Nós estávamos a parar o nosso.
Eu estava extasiada com a imagem. Não sei porquê mas quase que sai do jipe em andamento.
Depois, lembrei-me da canção «…parecem bandos de pardais á solta…». Aquelas crianças começaram todas a correr em direcção ao jipe «branco» (pelo menos foi o que me pareceu) e gritavam algo que não percebi.
Depois percebi perfeitamente. Gritavam «professor, professor, professor…».
Mas não pararam, junto ao jipe. Dirigiram-se a um dos edifícios degradados (que depois reparei tinha pintado por cima a palavra a vermelho escola) e desapareceram.
Sem esperar por ninguém, dirigi-me ao jipe e perguntei «algum dos senhores é o professor??».
Um deles disse «-eu sou o professor», estendi-lhe a mão cumprimentei-o e perguntei-lhe «-posso visitar a sua escola??», ele com um sorriso de orelha a orelha disse-me «-claro senhora é ali em cima» e apontou o dedo para o edifício em que tinha visto as crianças desaparecerem.
Dirigi-me ao edifício, confesso que naquela pequena travessia pensei várias vezes (quando tinha que dar uns saltos para não cair num dos buracos do chão de madeira), que talvez aquilo desmoronasse tudo.
Mas consegui, cheguei á ESCOLA.
Quando, entrei deparei-me com uma sala grande. Tinha um quadro muito antigo de giz. Algumas fotos antigas. E aqueles meninos estavam todos sentados, em secretárias antigas de madeira, aquelas que tem o tampo inclinado e que levantando o mesmo tem um local para se guardar os livros (fizeram-me lembrar as secretárias do meu colégio, um colégio já na altura muito antigo e tradicionalista), mas o mais impressionante é que estavam em silêncio.
Entrei e disse «-Bom dia».
Então o mais surpreendente aconteceu.
Aqueles meninos levantaram-se todos (quase me matando de susto) e disseram «- muito bom dia senhora».
Voltaram-se a sentar em silêncio. Só estava eu e os meninos na sala, depois entrou o professor e o ritual repetiu-se os meninos levantaram-se todos e disseram «-bom dia professor».
O professor, distribuiu então uns lápis de carvão e uns cadernos. Umas «ofertas» disse ele. E depois dispensou as crianças que muito ordenadamente saíram da sala.
Falei um pouco com o professor, perguntei-lhe o que ensinava e ele lá me ia dizendo, que ensinava o que vinha naquela sebenta e indicou-me um livro, pelo que vislumbrei quase que vos posso assegurar que parecia uma sebenta da altura do «antigo regime», daqueles livros que para nós são peças de museu.
Não conseguia deixar de pensar nas nossas crianças. As crianças das playstations, dos gameboys,…dos computadores.
E de compará-los àqueles meninos da «bola de trapo», disciplinados, educados, de sorrisos abertos...
Talvez, não tenham viajado…talvez não tenham visto com os meus olhos e sentido com as minhas palavras.
Mas para mim foi um prazer escrever isto e «viajar» novamente e extasiar-me e deslumbrar-me. Sim, hoje podem-me chamar «EGOISTA».
Decreto-Lei decretado por PrincesaVirtual às 18:22

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Quinta-feira, 1 de Setembro de 2005

O homem, a roupa e a caixa...

roupa.jpg
Às vezes acho que conheço os homens. Há dias que afirmo a «pés juntos» que os conheço.
Não conheço nada. Bem, pelo menos no seu todo.
De qualquer das formas tenho que convir que seria demasiada presunção conhecê-los.
Hoje vou escrever sobre algo que me intriga desde há muito.
Vejamos, tudo tem a ver com 3 coisas muito simples, mas que se tornam verdadeiramente complexas (pelo menos foi esta a conclusão a que cheguei) para os Homens. Que são o homem, a roupa e uma caixa.
Há anos que não entendo qual é o problema (lembro-me nos meus tempos de criança de ouvir a minha mãe a comentar o mesmo, referindo-se aos homens lá de casa, que eram o meu pai e o meu irmão).
O processo é simples (pelo menos para mim) e vou passar a explicar por etapas (9 etapas) como se deverá processar (a titulo de exemplo utilizarei apenas uma peça de roupa, o mesmo se aplica ás outras peças):

1º quando entra em casa (ou caso já lá esteja) e decide tomar duche não se dirija ao quarto ou a qualquer outra divisão da casa;

2º o seu objectivo será a zona de banho, ou seja «quarto de banho»;

3º dispa a roupa, mas não precisa de a lançar no chão ( o risco será maior se a peça de roupa atingir o chão);

4º por exemplo se for as cuecas não largue a peça da roupa, baixe-se levantando ligeiramente uma e outra perna (alternadamente, não tente levantar as duas ao mesmo tempo pois o chão pode faltar-lhe e magoa-se), apoiando-se por exemplo no lavatório;

5º sem nunca largar a peça de roupa (após ter completado a etapa nº 4 que tem por objectivo despir a peça sem a largar), dirija-se à «tulha», «caixa»… ou seja a zona de depósito de roupa suja;

6º com a outra mão livre ( e não, não largue as cuecas continue com elas na outra mão), alcança o alçapão ou tampa do cesto da roupa suja;

7º devagar (e não se atreva a largar as cuecas) abre a caixa (ou tulha) de roupa suja;

8º agora sim LARGUE AS CUECAS (ou qualquer outra peça) na «tulha» ou caixa;

9º feche a caixa ou alçapão e pode se dirigir ao duche.

Muito simples. Não é???
Pois caras amigas para os homens é difícil. Sugiro que copiem estas etapas façam um «print» a cores com uma imagem sugestiva (carros, motas …) e colem na porta dos vossos «quarto de banho».
Se mesmo assim não funcionar façam «prints» de etapa a etapa e formem um percurso com setas até á «tulha» ou «caixa de roupa suja».

Ou então em ultima instância, uma daquelas nossas «birras» e amuos durante uns dias, vai fazer com que nos próximos meses, eles sem etapas encontrem o caminho certo do caixa da roupa suja.

Se alguém tiver mais sugestões agradeço, que mas enviem. Quanto aos homens que lerem este «post» espero que com ele consigam realizar a tarefa a bom termo e assim possam contribuír para um bom ambiente familiar.
Decreto-Lei decretado por PrincesaVirtual às 14:59

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